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Contabilidade social: o papel do contador junto às pequenas empresas

Vinicius Roveda Vinicius Roveda | Atualizado em: 26/03/2024 | 6 mins de leitura

Contabilidade social: o papel do contador junto às pequenas empresas

Se você torce o nariz ao ouvir falar em empreendedorismo social, talvez este seja o momento de ampliar seus conhecimentos e rever conceitos. Ao estar ao lado dos pequenos empreendedores, você pratica a contabilidade social e não abandona o lucro, como se poderia imaginar. Ao contrário disso, se coloca como parceiro e fomenta o próprio crescimento.

A hora e vez da contabilidade social

Ao pesquisar sobre contabilidade social, você irá se deparar com diferentes conceitos. Entre eles, a contribuição do contador para que a empresa atendida se posicione no mercado de maneira sustentável. Mais do que as finanças, esse tipo de abordagem foca no comportamento do empreendimento e nas consequências dele sobre a sociedade e o meio ambiente.

Para um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), no entanto, a contabilidade social vai além. Não se trata somente do que o contador faz pela empresa, mas também a quais empresas ele atende.

Em sua pesquisa de mestrado, o contador William Martins de Gouveia destacou a necessidade de prestar mais atenção aos pequenos negócios. Ele aponta três razões principais para defender a maior aproximação da contabilidade com as empresas desse porte:

  • Geram a maior parte dos empregos no país;
  • Respondem por uma importante parcela do PIB (Produto Interno Bruto);
  • Influenciam diretamente a comunidade em torno da qual atuam.

As contribuições de Gouveia sobre o tema foram alvo de reportagem no Jornal da USP — veja a íntegra neste link. No texto, ele defende que o momento pede o maior envolvimento de contadores com esse perfil de empresas. É a hora de incentivar a contabilidade social.

Os resultados da sua pesquisa acabaram por reforçar o que já se sabe sobre a fragilidade na gestão de pequenos negócios, que, não raro, culminam no fechamento precoce de empresas. Entre as deficiências verificadas por Gouveia, estão:

  • Abertura de empresa sem planejamento para sobreviver e crescer;
  • Ausência de formação em administração ou gestão de negócios;
  • Instabilidade financeira e incapacidade de gerar lucro;
  • Predomínio de empresas com pouco tempo de mercado (a mais antiga tinha oito anos).

Agora, caro contador, analise as carências apontadas e responda: você pode ajudar a reverter esse cenário? Se a resposta for sim, faça mais uma reflexão: está você ou não diante de uma oportunidade de fazer o bem e crescer junto de novos clientes?

Nunca é demais lembrar que, ao seguir por esse caminho, você estará se especializando no segmento mais numeroso do mercado, que concentra a maioria das empresas do país.

Como crescer ao lado do pequeno negócio

Um aspecto muito interessante destacado por Gouveia em sua pesquisa de mestrado é o que motiva pequenos donos de negócios. Muitos deles decidem abrir uma empresa própria também por acreditarem que farão algo pelo bem da comunidade à sua volta.

Ou seja, além da importância das pequenas empresas para a economia, há também esse aspecto social sobre o qual estamos falando neste artigo. O problema é que muitas ideias acabam abreviadas em razão do desconhecimento do gestor a respeito do que fazer para manter o negócio em pé.

Se essa condição está muito mais para regra do que para exceção nas empresas brasileiras, como observado por Gouveia e outros estudos já publicados, nada mais justo que o contador invista na contabilidade social, possibilite aos pequenos negócios sobreviver e cresça junto com eles.

Vença preconceitos

O empreendedorismo social tem o mesmo fim lucrativo que qualquer empresa. Não é por que você atende a um negócio social ou se transforma em um que deixa de ganhar dinheiro. Ser financeiramente recompensado por fazer o bem, inclusive, gera ganhos em dobro.

Acabe com mitos

A pesquisa de Gouveia trouxe apontamentos semelhantes ao recente estudo divulgado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que já foi destaque aqui no blog. Muitos empreendedores de menor porte veem o contador apenas como alguém que o ajuda a prestar contas com o Fisco. Um emissor de guias que só calcula, mas não orienta.

Cabe a você atacar essa visão equivocada. Não sabe como? Mostre o seu valor.

Mostre seu valor ao cliente

O entendimento falho sobre o seu trabalho não é culpa apenas do cliente. É importante fazer uma autocrítica. Se pergunte sobre o que cabe a você para que ele o veja como um verdadeiro parceiro e perceba valor nos seus serviços.

É necessário que o cliente identifique vantagens ao ter o contador ao seu lado. E isso pode se dar na elaboração de um plano de negócios ou de ajustes na estratégia. Pode também aparecer no planejamento tributário, ao pagar menos impostos.

Nunca esqueça, também, do seu papel para melhorar a empresa do ponto de vista financeiro. O seu trabalho é fundamental para que os donos de negócios possam ter subsídios para a tomada de decisão.

Esteja próximo dos pequenos negócios

Quando o contador faz apenas o básico, ele acaba tendo pouco contato com o empresário. São poucos e-mails trocados, raros telefonemas e quase nunca ocorre uma visita ao cliente. Resumindo: a relação é de distanciamento, não de proximidade.

É preciso se mostrar envolvido com a empresa desde o início, interessado no seu projeto e disposto a contribuir efetivamente com seus resultados. Não espere o cliente pedir sua opinião, deixe claro qual o valor dela antes disso.

Ramo da contabilidade social ainda é emergente

O desconhecimento do pequeno empresário sobre o papel relevante do contador é só um dos obstáculos impostos à contabilidade social no Brasil. Embora aposte no segmento como um mercado promissor, Gouveia cita dificuldades encontradas na própria pesquisa. A carência de informações na literatura a respeito é uma delas.

A visão é a mesma exposta no artigo da contadora Maria Lúcia Deitos, especialista em Contabilidade Gerencial, no qual aborda a necessidade do profissional contábil conhecer as especificidades das pequenas empresas. A autora defende a ampliação dos estudos, considerando que a literatura atual ainda está muito dirigida ao segmento das grandes empresas.

Para você, contador, o recado mais relevante é saber que aquele que perceber o valor da contabilidade social antes dos concorrentes sai ganhando. Que tal correr na frente?

Que atenção o seu escritório tem dado aos pequenos negócios? Comente!

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